"No exacto momento em que parte, Djuku
apercebe-se de que é a primeira vez que deixa a sua aldeia.
Desde o seu nascimento até hoje, Djuku viveu sempre rodeada pelos seus na
pequena aldeia à beira da savana. Ela conhece cada recanto. E ninguém lhe é ali
desconhecido. Do mesmo modo, todos os aldeões sabem quem é Djuku:
— Djuku? É aquela que sabe assobiar, melhor até do que um pássaro!
— Quando há por aqui almoço de festa ou de cerimónia, é sempre Djuku quem os
faz: ela conhece todas as receitas e até inventa mais!
É verdade que Djuku cozinha galinha como ninguém, mas hoje Djuku vai-se embora.
Decidiu partir para longe, muito longe. É que aqui na aldeia, apesar dos amigos,
apesar das cerimónias, não há trabalho suficiente.
Fez-se à estrada e fixa os olhos na linha do horizonte para não se voltar, para
não chorar. Bem, vamos lá a ver, partir assim é demasiado duro. Então, uma
última vez, e antes que a aldeia desapareça na desordem das ervas altas, ela
olha-a. Olha-a durante tanto tempo e tão apaixonadamente que todas as coisas
onde o seu olhar toca entram no seu corpo.
Agora sim, Djuku pode pôr-se a caminho.
A velha guitarra de Quecuto entra no seu corpo. E com ela todos os perfumes das
músicas tantas vezes ouvidas.
A palmeira inclinada e o embondeiro do largo entram no seu corpo.
O caldeirão de Nhô-Nhô entra no seu corpo.
A casa de Pepito entra no seu corpo, apesar do seu tecto desgrenhado.
A barca e as redes de pesca de Benvindo que repousam sobre a areia entram no
seu corpo. Sente que todas estas coisas estão dentro dela firmemente atadas
como carga de um navio. Sente que, a cada passo dos muitos que dará, a aldeia
estará consigo."
A Viagem de Djuku / Alain Courbel e Éric Lambé. Alfragide: Caminho,
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