“A partir
de então tudo aconteceu muito depressa, como um filme em ritmo acelerado.”
Angela Carter usou uma expressão que
podia ser aplicada a muitas histórias infantis e juvenis, justamente “quando os
lobos saem das paredes”. Quando olhamos para as histórias há situações de
violência, com sentimentos dominantes de vaidade e preconceito.
Nelas vemos
lobos a saltar do inesperado. O capuchinho vermelho ou Harry Potter são exemplos
dessa surpresa que irrompe inesperadamente. É um sinal dos tempos, de cada
tempo na literatura? Nos livros ainda há uma esperança. O lenhador, ou a
inteligência do capuchinho vermelho, conforme as versões. A amizade ou as
capacidades individuais de aprender para eliminar Voldemort. No real tudo
parece mais difícil.
O dia da memória do Holocausto
revela-nos que o impossível chegou a ser possível. Alguns estudos
historiográficos recentes mostram que os adultos da máquina nazi tinham tido
contacto com histórias de uma clara indiferença para com o sofrimento humano,
quando crianças. Coincidência? Não sei. As crenças alicerçadas nas histórias e
na tradição às vezes podem ser fatais. Anne Frank acreditava, como os judeus
que se tratava de uma prova de coragem do seu deus.
O tema é relevante e não é
uma memória do passado. As sociedades burocráticas baseiam-se na obediência sem
questionamento, tal como os nazis mostraram em Nuremberga. Nenhum ideal, apenas
o cumprimento de ordens. Para esta memória nada como ler continuadamente e não
esquecer.
Um livro sobre o início do pesadelo de
quem teve a fortuna de se salvar, escrito com humor, esperança e alegria. Tudo
o que precisamos.
Quando Hitler roubou o coelho
cor-de-rosa/ Judith Kerr ; trad. e pref. Carla Maia
de Almeida. - 1ª ed. - Amadora : Booksmile, 2015.