sábado, 28 de novembro de 2020

Guardador de árvores

 
A temática ambiental, ou a sua designação num sentido mais estrutural, a Ecoliteracia é uma das áreas essenciais para a formação de leitores, mas também no seu sentido mais genérico, a da formação dos valores nas pessoas e assim na sociedade. Tema essencial não só porque faz despontar o valor daquilo que está para lá de cada um, o espaço natural, como afirma o outro, aqui em dimensões várias como algo em que cada um se materializa como uma relação. 
 
A natureza e a questão ambiental têm sido desvalorizadas há muitas décadas e se agora são incentivadas, é pela visibilidade do desastre natural a que a sociedade contemporânea trouxe até nós. É essencial fazer uma aproximação educativa capaz de rever esses efeitos negativos, mas também e sobretudo pela ligação essencial ao coração das coisas, à respiração e reconhecimento do papel de cada um e da sua própria felicidade.  
 
Guardador de árvores de João Pedro Méssederé uma das obras para um público infantile juvenil a trazer esses valores da Ecoliteraia. Um álbum de louvor às árvores, como se elas próprias na sua dádiva encaminhassem os sonhos das palavras para ideias novas, aprendizagens de futuro. As folhas, os ramos, a luz ente os espaços do dia nas imagens para a nossa gratidão pelo natural e pelo silêncio das árvores, como um anjo depositado nas coisas. Guardador de árvores é um livro de poesia para a iniciação nesse mundo de delicadeza e agradecimento pelo valor das coisas essenciais.

Guardador de árvores / João Pedro Mésseder / Il. Horácio Tomé Marques. Porto: Trampolim, 2009.

sexta-feira, 6 de novembro de 2020

A minha primeira Sophia

 
"Há muitos e muitos anos, em 1862, nasceu numa ilha da Dinamarca um menino a quem puseram o nome de Jan Henrik Andresen. A Dinamarca é um país do norte da Europa, com Invernos escuros e frios e florestas de pinheiros e bétulas. Jan era um rapaz forte e corajoso, que sonhava ser capitão de um navio e viajar para longe. Queria conhecer lugares mais quentes onde o sol brilhasse e, um dia, decidiu partir."

Assim começa, A minha Primeira Sophia de Fernando Pinto do Amaral, um livro maravilhoso que consegue ser uma biografia de Sophia integrando a sua vida com excertos de algumas das suas obras para o público infantil e juvenil. 

Livro que consegue transmitir de uma forma encantadora aquela que foi a vida de Sophia, o seu próprio imaginário feito de ideais preenchidos pelo encanto pela natureza, como o mar e as florestas. Livro que constrói os lugares de Sophia, onde ainda descortinamos o significado da palavra saudade, o valor da poesia na vida diária e o valor da nobreza, como um sentido para a própria vida e para a relação que devemos ter para com os outros e o mundo. 

Livro que nos fala da memória, dessa lição dada pelo professor Cláudio no Rapaz de Bronze, e de como histórias encantadoras e belas alimentam a nossa fantasia e como nos fazem estar atentos ao mundo, à sua beleza e também às formas injustas que observamos tantas vezes.  Livro que abre uma leitura plástica sobre um universo feito de animais, pessoas, flores, "brancos pavores", na procura da beleza das coisas.

Livro que Fernanda Fragateiro soube ilustrar de um modo também encantado e que só por si é uma outra história que acompanha a narrativa de um livro feito de beleza e que é mais do que um livro. É um objeto artístico que se pode admirar para compreender aquilo que foi uma vida de enigmas e de palavras e ações acima das palavras para retirar do mundo o caos e compreender a manhã inicial das coisas.


A minha primeira Sophia / Fernando Pinto do Amaral ; il. Fernanda Fragateiro ; rev. Clara Boléo. - 2º ed. - Alfragide : D. Quixote, 2000.