«Mas
quando ela desapareceu, a irmã deixou-se ficar ali sentada, tranquilamente, de
cabeça apoiada na mão, olhando o sol-poente e pensando na pequena Alice e em
todas as suas aventuras maravilhosas, até que começou também a sonhar. (...)
Ali ficou sentada, de olhos fechados.
Quase acreditou no País das Maravilhas, embora soubesse que, quando voltasse a
abri-los, tudo regressaria à enfadonha realidade... Apenas o vento faria
sussurrar a erva, e as águas do lago agitar-se-iam com o balouçar dos juncos...
O tilintar das chávenas transformar-se-ia no tinir dos chocalhos, e os gritos estridentes
da Rainha na voz do jovem pastor...
E os espirros do bebé, o silvo do Grifo
e todos os outros estranhos ruídos dariam lugar (ela sabia-o) ao barulho
confuso da azáfama que reinava no pátio da quinta, enquanto os mugidos do gado
à distância substituiriam os soluços profundos da Falsa Tartaruga.
Por fim, imaginou como esta sua
irmãzinha seria no futuro, quando fosse crescida; e como conservaria, já na
idade madura, o coração simples e adorável da sua infância, e reuniria à sua
volta outras crianças, cujo olhar se tornaria vivo e curioso ao ouvirem tantas
histórias estranhas, talvez mesmo a história do sonho do País das Maravilhas,
de há muitos anos; e como ela se sentiria no meio das suas tristezas simples e
encontraria prazer nas alegrias igualmente simples, ao recordar-se da sua
própria meninice e dos dias felizes de Verão.»
Lewis Carroll, Alice no País das
Maravilhas, págs. 125-126.
Na lembrança do aniversário do
desaparecimento físico de Lewis Carroll, (14 de janeiro de 1898) a memória de
um livro eterno, Alice no País das Maravilhas. Alice é a maior personagem da
literatura dita infanto-juvenil. Não existe outra personagem como ela. Alice é
intemporal e apesar de ela concentrar um tempo, ela revela-se num tempo de
fascínio pela infância, por uma delicadeza em que Lewis Carroll quis mostrar o
valor das crianças numa sociedade vitoriana que começava a lhes dar maior
reconhecimento. De certo modo Alice somos todos nós, a perguntar sobre o que
não tem sentido, a desbravar símbolos que não compreendemos, a tentar encontrar
um tempo com algum significado. Podemos voltar ao país das Maravilhas? Só muito
precariamente, pois os unicórnios não costumam regressar do seu reino de
maravilha.
Na memória de Lewis Carroll, um site que
nos dá um conjunto de recursos sobre uma personagem intemporal, Alice no país
das Maravilhas.
Alice no país das Maravilhas:
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