segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Biblioleitores


A palavra "ficção" se a víssemos no seu contexto original, na sua forma de nomeação inicial, logo daríamos conta que ela nos transmite "possibilidade", "hipótese", "criar". As histórias são assim parte de um reino, a chamada Literatura, que se tem definido como algo que designamos "ficção". As histórias são escritas, mas elas permanecem sobretudo como as imagens que cada um, quer dizer, cada leitor conseguiu revelar a si próprio. Imagens que são um património para a nossa própria viagem. 

Nessa viagem de leitores com personagens existirá apenas Literatura, ou poderíamos dividi-la em Literatura para adultos, outra para jovens, outra para crianças? Na verdade e, se ela o for, há apenas Literatura. Formas de nomear as coisas que encontramos no reino do visível, ou de imaginar o impossível, como forma de um real. Há apenas formas de texto literário à sombra do seu próprio tempo.

O real tem-se tornado desfigurado por uma fealdade gritante, um esquecimento óbvio da mais essencial decência. As histórias servem para criar um perfil de aventura, mas também para erigir uma linha de beleza. Às vezes, como por estes dias, o digital e as imagens virtuais criaram um barulho imenso, sinais de uma aparente descoberta. O que mais importa parece ter morrido nas praias do consumo que se esqueceu da linha de um traço, do percurso de uma cor numa flor, ou de uma estrofe de um poema. Temos evidentes dificuldades em chegar ao princípio das coisas, à sua memória. A descontinuação que se assiste é a própria fragilidade de pensar o possível. Nesse sentido todas as histórias, independentemente do seu público são simplesmente Literatura.

Imagem: Copyright - André Neves

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